Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: Manoel de Oliveira
Rosa Maria, uma jovem professora de História, parte com a sua filha Maria Joana num cruzeiro que atravessa o Mediterrâneo e se dirige a Bombaim, na Índia, onde se reunirão com o seu marido. A viagem é um verdadeiro passeio pelas civilizações ocidentais.
Sem dúvida
que os ataques às torres gêmeas mexeram com muita gente. Provavelmente o “11 de
Setembro” (dos EUA e não o do Chile) vai ser um marco da nossa história,
estudado por crianças daqui a 100, 200, 300 anos – se é que ainda teremos planeta
Terra até lá.
O
interessante, no entanto, é o desdobramento desse acontecimento no cinema. Se
alguém pedisse para fazer um filme sobre esse fatídico dia, provavelmente a
última coisa a se pensar seria a história de uma mãe e filha portuguesas à
bordo de um cruzeiro pela Europa e norte da África.
Mas, essa
foi a escolha de Manoel de Oliveira.
Um filme falado basicamente se divide em
duas partes. A primeira é um verdadeiro passeio pelas civilizações ocidentais,
incluindo as clássicas Grécia, Itália e Egito. É uma espécie de aula de
história, literalmente falada, e ilustrada por imagens contemporâneas que
preservam o antigo, como as pirâmides egípcias, oferecendo uma belíssima
fotografia. Certamente, os professores de história da 8ª série iriam adorar passar
esse filme em sua aula, enquanto corrigem as provas da semana passada. Os
alunos é que talvez não se concentrassem tanto, já que o filme exige uma calma
e quietude incompatível com os hormônios juvenis. Provavelmente, só um ou dois
prestariam atenção no filme, enquanto os demais dormiriam, brincariam de ABC,
ou sairiam da sala para namorar, jogar totó ou bater um baba.
Mas, eis que
essa história contada – interessante, porém monótona – é interrompida por uma
espécie de “segunda parte” do filme, totalmente distinta da primeira. Nesse
momento, não há mais desembarques, nem explicações sobre as cidades. A história
se concentra no interior do navio, em uma roda de conversas envolvendo o
capitão (John Malkovich !!!), três mulheres e, em seguida, a protagonista e sua
filha. Todas falando em seu idioma: português, grego, francês, inglês e
italiano.
Os cinco
personagens começam a refletir criticamente sobre a evolução das civilizações,
com suas guerras, tradições, erros, acertos, construções e destruições. Tudo
isso levemente misturado com questões pessoais, particulares. É um momento em
que toda a história vista na primeira parte passa a ser julgada e o que se
conclui é que as divergências entre civilizações sempre tenderam mais para a
destruição e o desafeto, do que para a construção de uma humanidade global, e
não fragmentada em diversos cacos desarmônicos. O filme mostra que é possível
se entender, mesmo se falando em uma outra língua. No entanto, a guerra
consegue se impor a isso e destruir tudo o que foi construído baseado na
fraternidade e respeito à diferença.
E onde entra
o 11 de setembro? Na última cena.
...
Uma
curiosidade: há algumas referências feitas ao Brasil.
Em uma cena,
o capitão conversa com a personagem:
- ... e nem
sequer terá de falar inglês, porque eu passei uns anos no Brasil, por isso,
mesmo não falando, eu entendo o português muito bem.
Em uma
seqüencia mais à frente, o mesmo capitão reforça que já morou no Brasil por
alguns anos.
Por fim, um
diálogo:
- Os
portugueses viajaram por todo mundo. Os gregos também viajaram por todo o
Mediterrâneo, e muito para o Leste. Até à Índia. Eu penso que é curioso que o
português, como língua, comparado, por exemplo, com o grego, estabeleceu-se no
Brasil, na África, em algumas partes da Ásia, Oceania e até na América do
Norte. Enquanto isso, a língua grega ficou restrita à Grécia.
Minha Nota: 7,3
IMDB: 6,8
ePipoca: 3,3
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