Direção: Ettore Scola
Sem diálogos, o filme
conta parte da história da França, da década de 1930 à década de 1980, a partir
dos personagens reunidos em um salão de dança. Através das recordações das
pessoas, da música e da dança, o filme traça um panorama da evolução do país, da
ocupação nazista ao surgimento do rock'n'roll.
Eduardo Coutinho, o gênio do documentário brasileiro, dizia que uma de
suas técnicas de criação era criar suas próprias prisões, estabelecer seus
próprios limites. Ou seja, “vou filmar a favela tal, ou moradores do prédio
tal, só religiosos de uma mesma comunidade, etc”. Enfim, determinava seu
recorte e a partir disso, criava.
Não sei como funciona o processo criativo de Ettore Scola, mas garanto
que ele é um gênio, dentro de sua própria prisão. Em A Família, a câmera está dentro da casa – o espaço físico é o seu
limite – e sem nunca sair de lá, o filme acompanha a transformação de uma
família, que vai atravessando gerações.
Em O Baile, a prisão
estabelecida é ainda mais desafiadora. Ettore não apenas repete o limite físico
– a câmera nunca sai do salão de dança – como elimina qualquer diálogo verbal.
Não há uma vogal dita entre os personagens e, no entanto, eles estão em
constante interação. A sensibilidade do filme é extraordinária. A expressão
facial e, sobretudo, corporal dos atores é uma aula.
Ettore consegue contar, sem dizer uma palavra, um fragmento da
sociedade ocidental do século XX. Apenas com músicas e sons de bombas. Apenas
com corpos e rostos. Apenas com sua genialidade.
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